Karibu! Dar es Salaam, dia 1
30/09/13 17:27A fome na África é um tema que raramente merece notícias nos jornais ou TVs, a não ser quando ganha proporções catastróficas, como em 1983 na Etiópia.
Ainda menos espaço é dedicado a matérias sobre a África que dá certo – esforços bem-sucedidos para aumentar a produtividade da agricultura e combater a fome no continente.
Este blog, que começa hoje na cidade de Dar Es Salaam, a maior da Tanzânia, vai abordar exatamente isso.
Trata-se de uma bolsa do International Reporting Project, sediado na Universidade Johns Hopkins, financiado pela Fundação Bill and Melinda Gates, para cobrir matérias relacionadas a fome, pobreza e segurança alimentar durante 11 dias, em diversas regiões da Tanzânia. Foram selecionados 11 jornalistas –a grande maioria americanos, apenas dois estrangeiros.
A ideia da bolsa é cobrir assuntos de importância global que têm sido negligenciados pela imprensa.E será uma cobertura multimídia – estarei tuitando, blogando, escrevendo matérias para o jornal impresso, fazendo vídeos para a internet, fotografando e gravando para o TV Folha, que é apresentado na TV Cultura aos domingos. O objetivo é mostrar os avanços na agricultura familiar da Tanzânia, pequenas soluções e tecnologias que estão mudando o dia a dia em um dos países mais pobres do mundo.
Cerca de 68% dos tanzanianos vivem com menos de US$ 1,25 por dia. No Brasil, são 6,1% que vivem nessa condição de miséria extrema, segundo a ONU.
Mais de 80% dos habitantes da Tanzânia trabalham na agricultura (15,7% no Brasil) –daí a importância de se estimular o setor.
Por muitos anos, entidades dos países ricos relutaram em incentivar o setor agrícola dos países africanos. Eles se limitavam a dar ajuda em espécie. Ou focavam seus programas em saúde e disseminação da democracia, uma agenda especialmente forte no governo Bush filho.
Durante o reinado do chamado Consenso de Washington, toda a ajuda vinha condicionada a cláusulas de livre mercado – eliminar subsídios e suportes à agricultura. O resultado foi a falência de um setor agrícola que já não ia nada bem.
Agora, existe a conscientização de que aumentar a produtividade dos pequenos agricultores está no cerne do desenvolvimento africano. Várias ONGs se dedicam a conceder empréstimos para agricultores comprarem fertilizantes e pesticidas, treinam os trabalhadores rurais em técnicas de plantio e colheita para aumentar a produtividade, disseminam tecnologias para aumentar o acesso a energia solar e métodos mais eficientes de armazenagem. O Brasil está engajado em programas semelhantes em Moçambique, Mali, Gana e Senegal.
Vamos para a Tanzânia testemunhar técnicas que estão ajudando a combater a fome em pequenas aldeias, inclusive dos Maasai, e na zona urbana no país.
A renda per capita na Tanzânia é de apenas US$ 1600 (números de 2012 – Brasil foi de US$ 12100). E a expectativa de vida é 60 anos (73 no Brasil).
Mas o país africano está emergindo – entre 2009 e 2012, teve crescimento médio de 6%. Em 2012, enquanto o Brasil cresceu parcos 0,9% do PIB, a Tanzânia avançou 6,9%.
Welcome to Tanzania! Karibu (Bem-vindo)!
Patricia,
Parabéns a você, parabéns à Folha. Quase não acredito nesta noticia: os jornais sempre noticiam a partir de NY, Londres, Paris,etc. Já achava o máximo a Folha ter um correspondente em Teerã. Vou acompanha-la como muito entusiasmo, como acompanho o Samy, em Teerã. Sem a ingenuidade de esperar apenas noticias “boas”, mas ver que na Africa também tem gente com esperança e fazendo alguma diferença na historia!
É muito bom dar um foco à África, npé, Gedeon?
Parabéns, Patrícia. Vou acompanhar com atenção o blog. Trabalho com agricultura na África há vários anos e é preciso entender o papel da agricultura familiar como geradora de emprego e renda e a ausência de políticas que permitam investimentos em agricultura de larga escala como forma de permitir que esses países alimentem seus vizinhos, os centros urbanos (urbanização na África é altíssima). O modelo brasileiro, com agricultura familiar alimentando o país e o agronegócio exportando e ajudando na capitalização da economia é o ideal para a África. A fome não se resolve produzindo mais alimentos em regime de subsistência. É preciso, também, gerar emprego e renda. Estou à disposição.
Obrigada Frederico, espero que o blog agregue e gostaria muito de manter contato com você.
Prezada Patricia,
Esse é meu email.
Trabalho na FGV Agro em projetos em Moçambique, Malaui, Nigéria, Zambia, Angola. Já morei em Moçambique e já coordenei projetos de Agricultura na ABC do MRE.
Fique à vontade. Vamos marcar uma conversa.
Tenho muito interesse em colaborar com quem escreve sobre Africa, cooperação e p. externa.
Peço que não publique meu email e esse comentário.
Ah, e não deixe de visitar Zanzibar. É incrivel.
Obrigado!
Bravooooooooooooo!!! Maravavilha Patricia, a matéria é fantástica…
Obrigada Ana Marta querida!
Triste saber o estado da Tanzânia. Se eu pudesse contribuir junto com as ONGS de alguma forma, faria isso sem pensar duas vezes.
Excelente a ideia. Essa matéria demonstra a importância do assunto.
Obrigada Flávio Tiné!